Joaquim e Anna, os pais de Maria, eram um casal já idoso da casa real de David. Desejavam por filhos e mesmo o sacrifício de Joaquim no Templo foi rejeitado por causa da sua esterilidade. Ferido de tristeza, Joaquim retirou-se para o deserto para jejuar por quarenta dias. Anjos - ou mesmo o Arcanjo Gabriel - apareceu-lhes em separado - a Ana no jardim e a Joaquim no campo enquanto guardava os rebanhos - para anunciar a ambos a vinda de um criança, Maria. Assim, ao ir ao encontro um do outro o casal encontra-se na entrada de Jerusalem, na Porta Dourada, onde eles solenemente se abraçam. A Porta Dourada ou o arco na mLivuralha da cidade é uma referência à Imaculada Conceição de Maria. Por vezes, Joaquim pode colocar a sua mão sobre o ventre de Ana, confirmando a sua gravidez. Ana muitas vezes usa um vestido vermelho e manto verde, simbolizando o amor divino e a imortalidade. Joaquim pode carregar consigo um cordeiro ou pombas num cesto.

A Imaculada Concepção da Virgem Maria é dos maiores temas devocionais, e tornou-se dogma da Igreja Católica.

Anuncio e Encontro de Joaquim e Ana(detalhe) Livro de Horas, uso de Roma, conhecido como "as Horas de Dunois", c.. 1440-1450, Paris, França



O pelicano é um animal muito devoto à sua prole. De acordo com a lenda, as crias de pelicano batem as suas asas de forma tão violenta no rosto dos progenitores que o "pai", em raiva, mata-os. Então a mãe perfura o seu próprio peito e revive as suas crias como o seu sangue. Deste modo, o pelicano representa um Deus zangado e vingativo que pune os Seus filhos, mas mais tarde arrepende-se e concede-lhes a salvação. Também ao alimentar a humanidade com o seu próprio sangue, representa a Eucaristia - este conceito tornou-se muito popular na Idade Média como resultado dos textos místicos de Santa Gertrudes de Helfta que, numa visão, viu Cristo desta forma. A Igreja fez dele um símbolo, no qual ele assemelhava-se ao Salvador, derramando seu sangue pela Igreja e pela humanidade. Por vezes o pelicano é representado no ninho no cimo de uma cruz, ou perto da Crucificação, representando a expiação.


Breviário de António de Burgundy, origem holandesa, c. 1475.



A história que envolve esta alegada virgem e mártir de tão insólita que é chega a causar alguma confusão, sendo resultado da combinação de várias lendas, que o imaginário popular tratou de unir. Primeiro, o próprio nome, Wilgefortis ou Wilgeforte – virgem forte, oferece-lhe um nome que nasceu associado à sua lenda, embora em diversos países recebe um sem número de nomes. Esta santa não raras vezes é associada como sendo santa Liberata, uma das irmãs de Santa Quitéria (a explicar num próximo post), que terá recebido o martírio às mãos do próprio pai. A lenda coloca-a em Portugal. Ou melhor, no território atualmente português, na zona de Braga. Senda a jovem de atraente feição o seu pai, que seria um rei de nome ??? tê-la-á prometido em casamento a um rei da Sicília ao qual Wilgeforte, desesperada, não sabia como fugir, pois não desejava aquele matrimónio. Orou assim a Deus pedindo que a tornasse tão feia e repugnante que homem mais nenhum havia de desejá-la. Como resposta ao seu pedido, cresceu-lhe uma farta e hirsuta barba que lhe deu feições masculinas. O rei, ao conhecê-la achando que zombavam dele por tamanha afronta, pôs fim ao acordo. O pai da santa ao vê-la e podendo explicar aquele insólito feito como obra de feitiçaria, mandou crucificar a própria filha, da mesma forma como havia morrido aquele a quem tanto amor devotava.
Iconograficamente apresenta-se vestida como uma jovem mulher tendo por vezes o arminho aos ombros, de cabelos longos e barbada e estando sempre já crucificada. A sua festividade é a 20 de Julho e tem como padroado o poder de desfazer casamentos indesejados, como não poderia deixar de ser.


Santa Wilgeforte, pintura mural localizada numa igreja em Utrecht, Países Baixos



O painel produzido em Nuremberga, e que é parte integrante de um retábulo medieval que terá sido encomendado para o convento das Clarissas Pobres de Nuremberga, faz parte com outros que retratam momentos da vida de Santa Clara.
Este episódio deu-se ainda antes da conversão de Clara, no Domingo de Ramos de 1212 quando São Fransisco a terá convidado a assitir à referida missa com as sua mais ricas vestes, pois provinha de família rica e bem posicionada. Aí, o Bispo de Assis oferta a Clara uma palma, num gesto simbólico orquestrado por São Franscisco tendo a Santa nessa data 18 anos. Pouco depois, Clara foge de casa deixando para trás a sua vida de riqueza e luxo simbolizado pelo corte dos seus cabelos que podemos entender pela presença da tesoura nas mãos de São Francisco, estigmatizado. As suas ricas vestes desaparecem para dar lugar ao conhecido hábito das clarissas. As três figuras encontram-se nimbadas, sendo acrescentado ao bispo a mitra e a clara uma coroa aludindo à sua condição de nobre.


O Bispo de Assis entrega a palma a Santa Clara, Metropolitan Museum of Art, ca. 1360, originário de Nuremberga



A árvore de Jessé é a representação da genealogia humana de Cristo baseada numa profecia do profeta Isaías. O nome de Jessé é referido no Antigo Testamento da Bíblia, mais particularmente no livro de Isaías, 11:1-3.
" Uma vara sairá do tronco de Jessé e um rebento brotará das suas raízes."
Os três principais elementos representados na árvore de Jessé são a raiz, a vara e a flor que correspondem respetivamente a Jessé, Maria e Cristo. Na sua forma mais comum representa-se Jessé, pai de David, reclinado ou adormecido e do seu ventre nasce uma árvore de cujo tronco saem ramos e em cada um deles se representam os antepassados de Cristo. .A árvore de Jessé ilustra a passagem da geração carnal (Jessé) à geração espiritual (Virgem e Cristo). A genealogia complementa-se com a representação do Menino Jesus, sua mãe Maria - por vezes entronizada com Jesus no colo - e recebendo os Sete dons do Espírito Santo; por vezes inclui-se também a figura de Deus Pai.


Árvore de Jessé, (cod. São Pedro, perg 139, Blatt7v), do Saltério Scherenberg cerca de 1260, convervado na Badische Landesbibliothek, Karlsruhe, Alemanha



Os Anjos apresentam nove hirarquias separadas consoante a sua função ou proximidade a Deus, o que leva a que sejam representados de diferentes formas. A primeira tríade é formada pelos Querubins, Serafins e Tronos e estão representados na fileira de cima. Os Querubins representam a sabedoria divina e e são representados com quatro asas e olhos esplhados pelas mesma e a sua cor é usualmente o azul ou amarelo. Os Serafins representam o amor divino e habitualmente são representados sem corpo e de cor vermelha, seis asas e por vezes emanam fogo. Os Tronos estão colocados junto ao Trono de Deus e representam a justifiça divina. Recebem a sua glória directamente de Deus e as suas tunicas são coloridas.
A Segunda Tríade é composta por Potestades e como guerreiros que combatem o demónio carregam espada ou armadura. As Dominações são anjos que, representando a autoridade, carregam uma orbe ou ceptro. As Virtudes não apresentam uma iconografia propriamente fixa, pois trabalham em favor das maravilhas obtidas pelas preces o orações, podendo portar lírios brancos ou incensários. Por fim, a terceira tríade é formada por Principados, coroados com coroa real são enviados para as missões destinadas a altos dignitários. No meio ficam os Arcanjos, são os mensageiros celestes e os mais conhecidos são Gabriel, Miguel e Rafael. Por fim ficam então os Anjos, aqueles que se encontram mais próximos dos seres humanos, são os guardiões dos inocentes e dos justos.


Passionário da Abadessa Cunegunda, (manuscrito), Coro das nove hierarquias (detalhe) séc. XII.



Daniel, profeta do Antigo Testamento, foi atirado para um cova com leões da qual saiu ileso graças à intervenção divina. Deus mandou um anjo para ajudá-lo, enquanto Habacuc, transportado da Judeia por um outro anjo, levou a comida que preparou para ele mesmo, para Daniel. O milagre foi reconhecimento pelo rei da Babilónia que fez castigar os seus detratores.
Daniel pode aparece tanto de pé como sedente, rodeado pelos leões. Em versões mais completas pode aparecer Habacuc, transportado por um anjo que o agarra pelos cabelos, levando os alimentos. Também os leões podem apresentar diversas atitudes: lambendo os pés de Daniel em sinal de submissão e respeito, com as patas apoiadas no seu corpo, pisando os cadáveres dos acusadores. Além da imagem de Habacuc que aparece como sinal de protecção pode aparecer também a "Dextra Dei" - a Mão de Deus - (publicado já num post anterior). Este representação foi entendida como prefiguração para a Ressurreição de Cristo e outros temas como a Descida ao Limbo ou o jejum no deserto.
Este programa iconográfico gozou de especial preferência dos primórdios do cristianismo e na Alta Idade Média, atingindo esta representação o seu auge no Românico.

Daniel na cova dos leões, Egipto - Bawit, século VI, madeira de tamargueira, Museu Bode, Berlim - foto da autoria do seguidor Tiago Alves



O símbolo mais antigo de Deus Pai, é uma mão radiante que sai de uma nuvem. Para significar que se trata de uma mão divina não só apresenta dimensões colossais como está também rodeada por um nimbo cruciforme. Às vezes projecta um raio de luz triplo, em alusão à Trindade ou aparece surgido de uma fonte de relâmpagos. Em alguns casos, a mão de Deus faz um gesto de preensão (por exemplo na Ascensão de Cristo ao céu), de benção, de comando ou de ameaça: é uma mão a falar que traduz o seu pensamento e a sua vontade.
Na iconografia do Antigo Testamento as principais cenas onde figura são: A oferenda de Abel e Caim, a ordem de Noé de construir a Arca, o Sacrifício de Isaac onde interveio para deter a mão de Abraão, a entrega a Moisés das Tábuas da Lei, no Sinai e o arrebatamento do profeta Ezequiel.


A mão de Deus intervém no Sacrifício de Isaac, detalhe do capitel da Igreja visigótica de San Pedro de la Nave, século VII, Zamora, Espanha



A abelha aparece como símbolo da indústria, creatividade e prosperidade, por causa da sua actividade pela organização do seu modo de vida e a sua habilidade para produzir e armazenar mel. É símbolo de sabedoria, pois recolhe pólen de variadas flores tornando-o num nutritivo e agradável néctar. Tão agradável é o seu sabor que, no perído Românico era significado de eloquência, tornando-se a colmeia um atributo de vários santos como São Bernardo de Claraval ou Santo Ambrósio, pois o seu discurso era "suave e doce como mel". Porque trabalham em comunidade e a sua sobrevivência depende de uma Rainha, é ainda símbolo da Igreja, onde todos devem trabalhar e produzir bens em prol uns dos outros.


Abelhas e Colmeias (detalhe), Livro de Horas de Catarina de Cleves, ca 1440, Pierpont Morgan Library M.945, fol.20, Utrecht, Holanda,



A Ressurreição de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, é o mistério central de toda a Cristandade, o factor determinante que distingue esta fé de todas as outras.
Cristo sai pelo seu pé do túmulo colocando-o sobre o corpo dos soldados que o guardariam. Tipicamente o Cristo ressuscitado evidencia um estandarte com a cruz vermelha, símbolo da Ressurreição, sendo acompanha a composição pela presença de Anjos músicos.

Ressurreição, manuscrito, século XIII, Biblioteca de John Rylands, Manchester.



O tema da Trindade "Trono da Graça" é considerado um dos mais místicos programas no que a este conceito se refere; Deus Pai, sentado num trono, juntamente com o Espírito Santo na forma de uma pomba branca, recolhem o corpo de Jesus, elevando-o. Isto completa o ciclo da existência terrena de Jesus começando a sua glória divina, assumindo o posto real que Cristo agora assume. Podem surgir dois tipos de variações para esta representação: Deus Pai pode segurar o Corpo de de Jesus ainda pregado na Cruz ou então somente o seu corpo sem vida.


Trindade "Trono da Graça", pedra policromada, séc. XV, Museu de Arte Sacra e Arqueologia da Igreja de São Lourenço, Porto, Portugal.



Nicodemus espalha óleos e perfumes preparando o corpo de Cristo para ser embalsamado enquanto um assistente termina de enfaixar as pernas de Jesus. Maria desmaia de dor ao passo que é amparada pela figura de João, enquanto as mulheres choram copiosamente. José de Arimateira, cujo capacete o indentifica como membro do Sinédrio, ajeita os ombros de Cristo dentro do túmulo.


Preparação para o Sepulcro, miniatura de um Evangeliário, ca. 1200, Brandenburgo, Arquivos da Catedral



Uma cruxificação diferente, cheia de detalhes iconográficos; Do eixo vertical da cruz brota uma mão com uma chave, símbolo do poder para abrir as portas do Reino do Céu; A morte de Jesus é oferecida como redenção pelo pecado cometido por Adão e Eva. A mão, que segura a espada que brota do braço esquerdo da cruz, simboliza vingança e castigo. O crânio com a serpente e maça na boca é um símbolo da presença do pecado, causa da morte espiritual. A alegoria à esquerda da cruz representa a fé judaica sendo substituida pela vinda do Messias. Possui um judeu de olhos vendados, um mastro de bandeira quebrado e uma altar com o sacrifício. Na base, um martelo que está prestes a esmagar o crânio, simboliza a vitoria de Jesus sobre a morte. Passando agora para o lado direito: No braço direito da cruz emerge uma mão com o sinal de benção; À direita de Jesus estão as consequências da redenção para os cristãos: estas referem-se, particularmente, ao nascimento e actividade da Igreja; Cristo inclina-se benevolentemente para este lado ao passo que as imagens à sua esquerda são negativas. Os ramos e as folhas que crescem na cruz referem-se à Árvore da Vida - Lignum Vitae. A figura alegórica à direita da cruz representa a fé cristã: Possui o cordeiro místico, o Novo Testamento, e uma jovem mulher que, com o estandarte e o cálice suportam a fé cristã.


Mestre de Westphalia, Alegoria da Crucificação, ca de 1400, Madrid, Colecção Thyssen-Bornemisza



O cordeiro foi tido como o símbolo ideal para os primeiros cristãos representarem Cristo e o Seu sacrifício para salvar a humanidade. O cordeiro deitado representa o corpo ferido; sentado é a representação da Igreja triunfante. Um cordeiro a segurar uma cruz com sangue a escorrer do seu lado para um cálice é o Agnus Dei - o Cordeiro de Deus. Simboliza Cristo Crucificado e a Eucaristia. Um cordeiro que segura um bastão com um estandarte, decorado com uma cruz, representa a Ressurreição e Cristo como Redentor (Joao 1:29). Um cordeiro sentado num livro fechado com sete selos é o Cordeiro do Apocalipse (Rev. 5:12). O cordeiro como símbolo para Cristo normalmente usa um halo cruciforme em representação do seu carácter divino. Pode aparecer isolado ou então incluído numa coroa triunfal. Quando o cordeiro é representado com a figura humana de Cristo como o Bom Pastor, o cordeiro representa o pecador que é resgatado por Cristo. (Lucas 15:4).Em geral o cordeiro, pela sua natureza, representa a pureza, a inocência, a docilidade, bem como a vítima sacrificial e pode ser usado para representar virtudes como a temperança, a prudência e a caridade.

Agnus Dei, tímpano do portal sul da Igreja românica do Salvador de Bravães, séc. XIII, Bravães, Viana do Castelo, Portugal.

Foto retirada do site Flickriver da autoria de geoorgesf.



A Descida ao Limbo é um evento apócrifo que aconteceu após a Ressurreição de Jesus que não tem qualquer base dos Evangelhos. A descida ao limbo, especialmente popular no Oriente, representa a derrota final do demónio. Cristo desce até ao interior da Terra para libertar as almas presas desde o dia da Queda. A população do Limbo consiste sobretudo nas almas de crianças não baptizadas e nas almas dos justos que sofrem por conta do pecado original. Os anjos assistem Cristo a prender o Diabo e as suas cortes. Detalhes de grilhões partidos, correntes e chaves, simbolizam a libertação das almas. Cristo pode aparecer oferecendo a sua mão para Adão e Eva, os que aguardam há mais tempo, enquanto pisa o corpo de Satanás. Alguns profetas e reis do Antigo Testamento podem também ser identificados e Cristo poderá carregar a cruz ou o estandarte da Ressurreição.


A descida ao Limbo, manuscrito iluminado, Petites Heures de Jean de Berry, século XIV.



A principal causa para a inclinação do Homem para o pecado é pela acção do Demónio. A interpretação cristã do Genesis reconta a Queda do Homem e a sua expulsão do paraíso terreste, consequência do pecado original, cometido como resultado da fraude cometida pelo diabo em relação a Eva.
Na Idade Média, num esforço para tornar o demónio presente na vida humana, pintores, escultores, canteiros criaram as mais fantásticas imagens alguma vez imaginadas, todas elas criações espontâneas de homens que acreditavam verdadeiramente que estavam sujeitos a tais perigos. Assim, a decoração de portais, óculos, capitéis e mísulas apresentam figuras de monstros diabólicos que representam a fúria do demónio e dos seus assistentes.
Gradualmente, a representação da tentação, começa a tornar-se limitada a certo episódios da vida de alguns santos que eram invocados precisamente porque suportaram terrivelmente os enganos e as tentações.


A tentação de São Bento, 1125-40, capitel de coluna, Vézelay - Basílica de Sainte-Marie-Madeleine



O termo moderno "anjo piedoso", evidencia uma cena na qual o Cristo morto é elevado do túmulo por um anjo. A fonte desta imagem, uma das mais comoventes de todas as invenções da Idade Média, pode ser ambiguamente delineada com a Eucaristia. Durante a consagração, o sacerdote diz as palavras: (...) Que esta nossa oferenda seja apresentada pelo vosso santo Anjo no altar celeste (...). Estas palavras deram, sem dúvida, suporte substancial para o surgimento desta representação. O campo visual é enquadrado pelas belíssimas asas do anjo cujas mãos veladas elevam cuidadosamente o corpo rígido de Cristo. Sofrimento, morte e redenção são os temas manifestados nesta representação.


Cristo morto suportado por um Anjo, cerca de 1440, albastro pintado e dourado, escultura da zona do Reno ou do sul da Holanda, Smithsonian National Gallery of Art, Washington, DC USA



O sacrifício de Isaac, como narra em Gn 22,1-14, desempenha na arte cristã, como prefiguração da paixão de Cristo, um papel importante. A interpretação simbólica de muitas facetas; a prefiguração da paixão de Cristo é desenvolvida, na glossa ordinaria medieval, em largos detalhes alegóricos; Abraão é a imagem de Deus que oferece o seu Filho; Isaac, que leva aos ombros a madeira para o holocausto, é a figura de Cristo que carrega a sua cruz; o jumento que leva a carga no séquito de Abraão alude ao povo de Israel que recebe a palavra de Deus sem entendê-la; o carneiro, oferecido em lugar de Isaac, é o Cristo crucificado; o espinheiro que prende os seus chifres remete para a cruz enquanto que os próprios espinhos são a figuração da coroa de espinhos de Cristo.

O Sacríficio de Isaac, Vitral- painel 12, Séc. XIII Catedral de Poitiers, França





A prova que na Idade Média se identificava São Miguel com o pesador das almas é o facto de ser padroeiro dos pesadores (em casas da Moeda). Por adição é fácil citar um sem número de obras românicas e góticas em que o pesador das almas é, sem dúvida, São Miguel. O certo é que São Miguel foi, inicialmente, considerado o condutor e guia das almas (psicopompo) porque havia disputado com Satanás a alma de Moisés; posteriormente foi-lhe atribuida a função de pesador das almas no Juízo Final. Às vezes a balança encontra-se suspensa na mão de Deus que surge de uma núvem. São Miguel está ali somente para para vigiar o prato direito e receber as almas dos justos enquanto que, em frente, o demónio tenta forçar a balança e incliná-la para o seu lado. Contudo, o mais normal é que São Miguel segure na balança.

São Miguel pesando as almas, Mestre de Soriguerola, inícios do século XIV, Museu Nacional de Arta da Catalunha.



Nas fontes, o banho de Betsabá ou Betsabé, é referido no Antigo Testamento:
- 2 Samuel 11:2-4 "Um dia, após o almoço, David levantou-se depois de ter dormido um pouco, e foi passear no terraço do palácio real. Do terraço avistou uma mulher que se banhava. E notou que era uma mulher muito bonita. David desejou saber quem era aquela mulher. Ao que lhe informaram: “O nome dela é Bat-Shéva, Bate-Seba, filha de Eliah e esposa de Urias, teu servo hitita." Betsabé é representada ora nua ora com roupa interior muito delicada, dentro de uma fonte ou de um rio que se encontram num jardim. O rei David observa-a da varanda do seu palácio. Por vezes, tanto o rei como Betsabé aparecem acompanhados por criados, e em alguns exemplos os emissários do David entregam a esta uma missiva. A imagem/iconografia do banho, pode aparecer como parte de um ciclo narrativo da vida do rei ou então de forma independente. O banho de Betsabé é interpretado como uma imagem da Igreja purificada pelo baptismo e salva do demónio, personificada na pessoa de David.

O banho de Betsabé, Livro de Horas, Jean Bourdichon, c. 1485-1499, França

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Este tipo de imagens, apelidadas de Virgens Abrideiras,são uma representação da Virgem entronizada com o Menino Jesus no colo e que se abre para deixar ver uma espécie de retábulo onde figuram, como uma história, cenas do Nascimento ou da Paixão. Nos exemplos peninsulares centrava-se estas composições no culto mariano, representando cenas da vida de Maria. Contudo, foram imagens fortemente contestadas e criticadas pelo duplo sentido que ofereciam às pessoas, podendo levar os crentes ao erro e até mesmo a indevoções. Esta escultura em concreto apresenta nove cenas na sua grande maioria da vida da Virgem: no registo inferior podemos observar (da esquerda para a direita), A Anunciação, a Natividade com o Anúncio aos Pastores e a Epifania ou Adoração dos Magos; na fiada central temos a Ascenção de Cristo, a Dormição da Virgem e o Pentecostes; por fim, no topo, a Assunção da Virgem, a sua Entronização e Coroação e a Visitação. Também o trabalho do marfim era quase inexistente em Portugel pelo que este, tal como outros exemplares da Península Ibérica, tenham sido produzidas por oficinas parisienses.


Virgem do Paraíso, Museu de Arte Sacra da Sé de Évora, final do século XIII ou início do século XIV.



A Virgem do Leite é umas das representações de Maria, nesta amamentando o Menino Jesus. Datado já dos primórdios do cristianismo, quando os Padres da Igreja identificavam o tema da maternidade da virgem Maria com a própria Igreja. O Menino poderá estar vestido ou então somente com um pano a cobrir o seu corpo desnudo. Nas primeiras representações, nas mais antigas, o Menino puxa o peito da Mãe por forma a mamar ainda que Maria oferece embora se represente completamente vestida. Mais tarde, o seio de Maria consegue vislumbrar-se por uma fenda no vestido, até que em representações do séc. XV e XVI a Virgem mostra o peito de forma explícita.


Virgem entronizada amamentando o Menino Jesus, c.1300-1330, calcário, origem francesa



Esta história apareceu já representada numa miniatura do séc. XII e coincide com a chegada ao mosteiro de Weingarten de uma relíquia do Sangue de Cristo e com a polémica acerca da presença real ou não de Cristo na hóstia consagrada, assunto que ficará dogmaticamente resolvido até ao IV Concílio de Latrão de 1215 em que se formula o principio da Transubstanciação. Contudo, a lenda que se torna popular no século XV e que se reproduzirá profusamente na arte conta que São Gregório estando em Roma, na basílica da Santa Cruz de Jerusalém, enquanto oficiava a uma Sexta-feira Santa, um dos assistentes terá duvidado da presença de Cristo na hóstia consagrada. Desse modo o papa ajoelhou-se e orou diante do altar e apareceu Jesus rodeado das Arma Christi – os instrumentos da Paixão – evidenciando as suas chagas sangrentas enchendo com a do lado o cálice que estava na mesa.


Livros de Horas oferecido pelo Conde Claude de Fonseque à sua irmã a Condessa Countess Helene de Fonseque de Segueres, c.1460, França Ocidenta (Poitou?)



O nascimento de Maria (ou Miriam em hebraico) foi completamente normal. Os elementos divinos e sobrenaturais da natureza e conceção de Maria ocorreram muito antes de Ana dar à luz. Até mesmo as palavras carinhosas e a atenção da sua mãe, largamente retratados no Proto-Evangelho de Tiago, retratam uma relação intensa e amorosa entre uma mãe e a sua primeira filha. Precisamente por causa destas qualidades muito humanas, as representações deste tema dos fins da Idade Média até ao Renascimento, apresentam registos preciosos de momentos históricos e costumes, com variadíssimos detalhes de decorações interiores e vestuário. A figura realista de Ana, nunca mencionada nos Evangelhos Canónicos, era muito popular na Alemanha incluindo entre as famílias de classe social mais humilde. Podemos observar uma parteira que apresenta a Ana nua, coberta apenas por uma touca branca, a recém-nascida Maria.


A Natividade da Virgem, manuscripto do século XV, Antifonário Ranworth fol. 257, Rector and Wardens, Ranworth, Norfolk



Viveu no século III em Alexandria, martirizada. Invocada para as dores de dentes porque a sua mandíbula foi partida e os seus dentes arrancados e porque a sua lenda diz que, antes de morrer, prometeu auxiliar todos aqueles que sofressem de dores de dentes. Por tal é também patrona dos dentistas. O seu culto espalhou-se pelo Ocidente imediatamente após o seu martírio e a sua festa litúrgica é a 9 de Fevereiro


Detalhe de miniatura do martírio de Santa Apolónia, Livros das Horas de Dunois, c. 1440-1450, Paris (França)



A Mandorla, é uma forma oval que encerra uma figura importante. A palavra Mandorla, italiano para amêndoa, refere-se a esta semente pela forma oval similar. Em latim, a mandorla é chamada de vesica piscis - bexiga de peixe - outra forma oval. O uso mais antigo da mandorla data do século V. Nesta imagem em particular, " Cristo em Majestade" ou "Majestas Domini", Cristo faz o gesto de benção e declara " ego sum lux mundi" = "EU sou a luz do mundo" Jesus é retratado em ambos os domínios, humano e divino, mostrado pelo seu pé, pelo gesto da mão e pelo halo que se extendem para fora da mandorla, que geralmente inclui os quatros animais, símbolo dos Evangelistas. Ele é repreentado física e figurativamente, como mostrado no livro na mão de Jesus que significa "Eu sou a Palavra".


Cristo em Majestade, século 12, Românico, Igreja Sant Climent de Taüll, MNAC, Barcelona



Nossa Senhora da Expectação ou Nossa Senhora do Ó, nome popular, recebe este título numa festa comemorativa que se inicia a 18 de Dezembro, a chama Semana do Advento. Devoção Mariana surgida em Toledo por volta do séc. VII, rapidamente o culto popular passou a apelidá-la de Nossa Senhora do Ó. Pode isto dever-se ao facto da forma oval da barriga que Maria apresenta, mas o mais provável é que seja por que em cada um dos sete dias da semana, a Igreja canta no Ofício Divino uma antífona que começa pela exclamação "Ó": Ó Sabedoria...Ó Adonai...Ó Raiz de Jessé...Ó Chave de David...Ó Oriente...Ó Rei das Nações...Ó Emanuel". Este canto é atribuído à Virgem e por isso passou a ser denominada de Nossa Senhora do Ó. Iconograficamente, é representada com o ventre avultado em fase final de gravidez, onde repousa sobre ele a sua mão e a outra se levante em sinal de aceitação da vontade divina. Pode também ser representada com uma mão sobre o ventre e com um livro na outra mão ou junto de uma fonte em referência à Fonte de Vida que ela carrega dentro de si. Com o surgimento do dogma da Imaculada Conceição no séc. XIX grande parte desta imagens desaparecem pois o ventre proeminente na Virgem não condizia com o título. Grande parte desta representações foram enterradas em altares de Igreja para serem de novo postas a descoberto no séc. XX


Nossa Senhora do Ó, século XIV, pedra policromada, Igreja de São Lourenço, Porto, Portugal - fotografia da autora.