Há muito para contar da vida e da iconografia deste fabuloso santo. Hoje ficamos por um dos episódios da sua vida mais representados pela arte. Numa próxima publicação falaremo de outros aspectos da sua biografia.

De acordo com os seus biógrafos, São Francisco levava uma vida confortável e cheia de  riquezas. O chamamento de Cristo levou-o à renuncia dos seus bens dedicando a sua vida aos ideais de pobreza e caridade, procurando levar assim uma vida que imitasse, o mais perto possível, os passos de Jesus, Um dia em 1224,estava o santo  em oração no monte Verna para onde se havia retirado para um jejum de 40 dias. Ali, São Francisco recebe a visão de um serafim com a imagem de Cristo crucificado entre as seis asas do mesmo de onde, miraculosamente, recebe os estigmas – stigmata – as feridas infligidas a Cristo durante a sua morte e crucificação. As suas palmas das mãos, pés e o seu lado são perfurados e, segundo a sua lenda, não mais saram até à sua morte. 

São Franscisco, recebe os estigmas, produzido em Nuremberga, 1355, Deutsches Historisches Museum (Museu Histórico Alemão). Foto da autoria e gentilmente cedida pelo seguidor Tiago Alves.




Hoje é o dia da sua festa litúrgica, e como não tenho mesmo tempo para vos escrever uma grande publicação como é meu costume deixo-vos esta deliciosa imagem de São Bartolomeu. Sob a sua protecção, e por causa do seu martírio, - que consistiu em ser-lhe arrancada a pele - todos os ofícios relacionados com isso o reclamaram para si: encadernadores, curtidores, batedores, luveiros, sapateiros, açougueiros e até mais recentemente dos dermatologistas. A sua iconografia sofreu tremendas variações ao longo dos tempos; tanto podia aparecer com ou sem a sua pele e por isso o seu mais importante atributo é a faca. Aparece também com o demónio encadeado aos seus pés, dando-lhe assim a importante tarefa de santo "exorcista" pois a sua lenda diz que subjugou um demónio que respondia a questões como um oráculo e que habitava uma estátua do deus marte. Por isso também está associado a doenças como espamos e convulsões.
São Bartolomeu, na imagem decapitado e segurando a própria pele, túmulo de D. Pedro I - Abadia de Alcobaça, século XIV, Portugal. A foto é da autoria de Paulo Martins.




Joaquim e Anna, os pais de Maria, eram um casal já idoso da casa real de David. Desejavam por filhos e mesmo o sacrifício de Joaquim no Templo foi rejeitado por causa da sua esterilidade. Ferido de tristeza, Joaquim retirou-se para o deserto para jejuar por quarenta dias. Anjos - ou mesmo o Arcanjo Gabriel - apareceu-lhes em separado - a Ana no jardim e a Joaquim no campo enquanto guardava os rebanhos - para anunciar a ambos a vinda de um criança, Maria. Assim, ao ir ao encontro um do outro o casal encontra-se na entrada de Jerusalem, na Porta Dourada, onde eles solenemente se abraçam. A Porta Dourada ou o arco na mLivuralha da cidade é uma referência à Imaculada Conceição de Maria. Por vezes, Joaquim pode colocar a sua mão sobre o ventre de Ana, confirmando a sua gravidez. Ana muitas vezes usa um vestido vermelho e manto verde, simbolizando o amor divino e a imortalidade. Joaquim pode carregar consigo um cordeiro ou pombas num cesto.

A Imaculada Concepção da Virgem Maria é dos maiores temas devocionais, e tornou-se dogma da Igreja Católica.

Anuncio e Encontro de Joaquim e Ana(detalhe) Livro de Horas, uso de Roma, conhecido como "as Horas de Dunois", c.. 1440-1450, Paris, França



O pelicano é um animal muito devoto à sua prole. De acordo com a lenda, as crias de pelicano batem as suas asas de forma tão violenta no rosto dos progenitores que o "pai", em raiva, mata-os. Então a mãe perfura o seu próprio peito e revive as suas crias como o seu sangue. Deste modo, o pelicano representa um Deus zangado e vingativo que pune os Seus filhos, mas mais tarde arrepende-se e concede-lhes a salvação. Também ao alimentar a humanidade com o seu próprio sangue, representa a Eucaristia - este conceito tornou-se muito popular na Idade Média como resultado dos textos místicos de Santa Gertrudes de Helfta que, numa visão, viu Cristo desta forma. A Igreja fez dele um símbolo, no qual ele assemelhava-se ao Salvador, derramando seu sangue pela Igreja e pela humanidade. Por vezes o pelicano é representado no ninho no cimo de uma cruz, ou perto da Crucificação, representando a expiação.


Breviário de António de Burgundy, origem holandesa, c. 1475.



A história que envolve esta alegada virgem e mártir de tão insólita que é chega a causar alguma confusão, sendo resultado da combinação de várias lendas, que o imaginário popular tratou de unir. Primeiro, o próprio nome, Wilgefortis ou Wilgeforte – virgem forte, oferece-lhe um nome que nasceu associado à sua lenda, embora em diversos países recebe um sem número de nomes. Esta santa não raras vezes é associada como sendo santa Liberata, uma das irmãs de Santa Quitéria (a explicar num próximo post), que terá recebido o martírio às mãos do próprio pai. A lenda coloca-a em Portugal. Ou melhor, no território atualmente português, na zona de Braga. Senda a jovem de atraente feição o seu pai, que seria um rei de nome ??? tê-la-á prometido em casamento a um rei da Sicília ao qual Wilgeforte, desesperada, não sabia como fugir, pois não desejava aquele matrimónio. Orou assim a Deus pedindo que a tornasse tão feia e repugnante que homem mais nenhum havia de desejá-la. Como resposta ao seu pedido, cresceu-lhe uma farta e hirsuta barba que lhe deu feições masculinas. O rei, ao conhecê-la achando que zombavam dele por tamanha afronta, pôs fim ao acordo. O pai da santa ao vê-la e podendo explicar aquele insólito feito como obra de feitiçaria, mandou crucificar a própria filha, da mesma forma como havia morrido aquele a quem tanto amor devotava.
Iconograficamente apresenta-se vestida como uma jovem mulher tendo por vezes o arminho aos ombros, de cabelos longos e barbada e estando sempre já crucificada. A sua festividade é a 20 de Julho e tem como padroado o poder de desfazer casamentos indesejados, como não poderia deixar de ser.


Santa Wilgeforte, pintura mural localizada numa igreja em Utrecht, Países Baixos



O painel produzido em Nuremberga, e que é parte integrante de um retábulo medieval que terá sido encomendado para o convento das Clarissas Pobres de Nuremberga, faz parte com outros que retratam momentos da vida de Santa Clara.
Este episódio deu-se ainda antes da conversão de Clara, no Domingo de Ramos de 1212 quando São Fransisco a terá convidado a assitir à referida missa com as sua mais ricas vestes, pois provinha de família rica e bem posicionada. Aí, o Bispo de Assis oferta a Clara uma palma, num gesto simbólico orquestrado por São Franscisco tendo a Santa nessa data 18 anos. Pouco depois, Clara foge de casa deixando para trás a sua vida de riqueza e luxo simbolizado pelo corte dos seus cabelos que podemos entender pela presença da tesoura nas mãos de São Francisco, estigmatizado. As suas ricas vestes desaparecem para dar lugar ao conhecido hábito das clarissas. As três figuras encontram-se nimbadas, sendo acrescentado ao bispo a mitra e a clara uma coroa aludindo à sua condição de nobre.


O Bispo de Assis entrega a palma a Santa Clara, Metropolitan Museum of Art, ca. 1360, originário de Nuremberga



A árvore de Jessé é a representação da genealogia humana de Cristo baseada numa profecia do profeta Isaías. O nome de Jessé é referido no Antigo Testamento da Bíblia, mais particularmente no livro de Isaías, 11:1-3.
" Uma vara sairá do tronco de Jessé e um rebento brotará das suas raízes."
Os três principais elementos representados na árvore de Jessé são a raiz, a vara e a flor que correspondem respetivamente a Jessé, Maria e Cristo. Na sua forma mais comum representa-se Jessé, pai de David, reclinado ou adormecido e do seu ventre nasce uma árvore de cujo tronco saem ramos e em cada um deles se representam os antepassados de Cristo. .A árvore de Jessé ilustra a passagem da geração carnal (Jessé) à geração espiritual (Virgem e Cristo). A genealogia complementa-se com a representação do Menino Jesus, sua mãe Maria - por vezes entronizada com Jesus no colo - e recebendo os Sete dons do Espírito Santo; por vezes inclui-se também a figura de Deus Pai.


Árvore de Jessé, (cod. São Pedro, perg 139, Blatt7v), do Saltério Scherenberg cerca de 1260, convervado na Badische Landesbibliothek, Karlsruhe, Alemanha